sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO VELHO

Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto-velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e não sei porque contei-as... Foram sete.
Na incontida vontade de saber aproximei-me e o interroguei. Fala, meu preto-velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor?
 
E ele, suavemente respondeu: 
Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.
A primeira, eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...
A segunda a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que seus próprios merecimentos negam.
A terceira, distribui aos maus, aqueles que somente procuram a ESPIRITUALIDADE, em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante.
A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão.
A quinta, chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: Creio na FORÇA ESPIRITUAL, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo.
A sexta, eu dei aos fúteis que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente.
A sétima, filho notas como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os NEGOS VÉIOS. Fiz doação dessa aos Médiuns vaidosos, que só aparecem no Centro em dia de festa e faltam as doutrinas.
Esquecem que existem tantos irmãos precisando de amparo material e espiritual.
Assim, filho meu, foi para esses todos, que viste cair, uma a uma
 
AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO-VELHO.



Preto Velho

Os PRETOS VELHOS são falanges de espíritos de alta hierarquia, Raios de Olorum, que assumem a roupagem de Pretos Velhos, atuando com simplicidade e carinho, em ação desobsessiva, aliviando os seres humanos de seus cobradores e obsessores, desintegrando cargas negativas pela força do amor. Também a eles está destinado o trabalho das comunicações, confortando os aflitos, revertendo quadros de sofrimentos e dando esperança e paz àqueles que os consultam. São verdadeiros seres revestidos de Luz e Amor, sempre protegendo e orientando as pessoas, principalmente médiuns  que são seus aparelhos, confortando-os ou, se for o caso, repreendendo-os, mas sempre com ternura e carinho, jamais magoando ou humilhando quem quer que seja. Um cuidado especial deve ser tomado, desde o Desenvolvimento, para que ninfas tenham Pretas Velhas como Mentoras e mestres tenham Pretos Velhos, com vistas ao Emplacamento. Todavia, uma ninfa pode trabalhar com um Preto Velho, em seu atendimento nos Tronos, sem qualquer impedimento 

Mãe Tilde

                Mãe Tildes é uma grande Missionária, um Espírito de Luz que assume a roupagem de simples Preta Velha, na humildade de escrava que foi em um conga no Sul da Bahia, onde exerceu plenamente as atividades doutrinárias, buscando harmonizar as forças iniciática daqueles espíritos já interligados pelas origens de nossa Corrente que para ali foram, atraídos por suas faixas cármicas e por suas missões. Foi uma defensora da libertação dos escravos, para isso tendo que usar muitos dos conhecimentos sobre o transcendental daqueles senhores de engenho e sinhazinhas, buscando aliviar seus carmas e induzindo-os a se lançarem na Lei do Auxílio. É considerada a Padroeira do Lar, por seu amor e  sábios conselhos para manter a união e a harmonia de casais e da família, nos atendendo em nossas complicações sentimentais e nos ajudando nos momentos difíceis de nossas vidas. Alma gêmea de Pai João de Enoque, veio com ele em diversas encarnações, especialmente quando do deslocamento das raízes africanas realizado pelos escravos que vieram para o Brasil Colônia. Uma das histórias envolvendo Mãe Tildes, que muito nos marcou por conter personagens que se encontram no Vale do Amanhecer, em cobranças e reajustes, é a da FAZENDA TRÊS COQUEIROS:
                 “Havia, nas imediações de Angical, a Fazenda Três Coqueiros, uma enorme fazenda dos Pereiras, na época, pertencente a Alfredo e Márcia, recém-casados, que a receberam como herança. Havia uma cachoeira limitando a Fazenda Três Coqueiros com a fazenda dos Ferreiras, nobre e rica família, porém gananciosa, com cada membro querendo ser o mais rico, o maior, pois a vaidade e o orgulho eram as suas características. Naquela região, perto dos Ferreiras, havia inúmeras fazendas, grandes e pequenas, pertencentes a famílias que eram aliadas aos Ferreiras e participavam das mesmas idéias, cheias de maldade e ódio, pois a cobiça e a inveja faziam com que eles só pensassem em fazer o mal àqueles daquela bela Fazenda Três Coqueiros. Eram rixas transcendentais. Os Ferreiras e seus aliados sustentavam o ódio arraigado em seus corações. Estas duas famílias estavam sempre em choques e os aliados faziam trincheiras e tocaias, provocando mortes e destruições. Porém, as mortes eram só dos escravos (como diziam eles, escravos eram pagãos e não mereciam bons tratos; eram comprados como um animal qualquer!). Certo dia, Márcia saiu a passear a cavalo, e foi até a cachoeira, ficando admirada com a beleza daquele lugar, daquela linda cachoeira. Sim, aquela era a antiga Cachoeira do Jaguar, de Pai Zé Pedro, de Pai João e das Princesas! Sabia-se que ali existira um fenômeno, há cem anos. Márcia era uma médium de grande percepção. Parou e, deslumbrada, disse:
                - É verdade!... Aqui existiu um grande fenômeno envolvendo alguns escravos!
                Nisso, Valdemar Ferreira chegou e, abraçando a sinhazinha pelas costas, disse:
                - Aqui houve um grande fenômeno, dizem os antigos, de Pretos Velhos forasteiros...
                Imediatamente Márcia se lembrou de que Valdemar Ferreira era o mais triste dos inimigos de seu marido e, também, lembrou que seu esposo lhe havia dito que ela jamais pisasse naquele local. Livrando-se de Valdemar, ela saiu correndo. Mas o destino pregou-lhe uma peça: um pequeno escravo dos Ferreira viu Márcia ali com Valdemar e foi contar tudo a Alfredo. Márcia já esperava um filho de Alfredo. Todos os escravos de Valdemar odiavam a Fazenda Três Coqueiros, cheios de inveja, porque a vida dos escravos de Alfredo era boa, levando uma vida normal. Até mesmo os feitores de Alfredo eram bem tratados e eram bons com os escravos, o que não acontecia com o povo dos Ferreiras. Certo dia, o filho de Zefa - da Fazenda Três Coqueiros - começou a namorar uma crioula, escrava dos Ferreiras. Os escravos dos Ferreiras se revoltaram contra o filho de Zefa, esfaqueando-o, e o colocaram, semimorto, à porta de Alfredo, deixando um bilhete em que diziam que não queriam aquele cachorro por lá e, mais, que quando o filho de Márcia nascesse fosse mandado para Valdemar. Márcia, cansada e cheia de dores por causa da gravidez já adiantada, ouvindo os gritos de Zefa, correu ao encontro da velha escrava. É que Alfredo encontrara o rapaz esfaqueado e lera o bilhete. Cheio de ira, mandou que jogassem o rapaz no pasto, longe da Casa Grande. Mãe Zefa havia encontrado o filho e gritava por Márcia, para que ela ajudasse o rapaz. Márcia, mesmo cheia de dores, foi ajudar Zefa, saindo com Pai Zé Pedro para buscar o pobre escravo que havia passado a noite no relento, com urubus já sobrevoando seu corpo. A bondosa sinhazinha mandou que levassem o rapaz para dentro de casa e, então, houve um caso de desintegração: Márcia passou com o ferido perto de Alfredo e este não os viu! Assim que Alfredo encontrou Márcia mandou-a, sem explicações, para a senzala e mandou erguer um grande cercado para mantê-la prisioneira ali. Mandou que Mãe Tildes cuidasse dela. Mãe Tildes era confidente e grande amiga de Márcia. Alfredo comunicou que tão logo o filho de Márcia nascesse ele o mandaria para Valdemar. Márcia cativou todos aqueles escravos com seu amor e dedicação. Quando Zé Pedro, o velho nagô, chegou para falar com Márcia, esta perguntou:
                - Quem é este homem?
                - É um velho nagô - respondeu Mãe Tildes - que recebe espíritos no lombo!...
                - Não, sinhazinha, não precisa ter medo! - disse Pai Zé Pedro se chegando, e se virando para Mãe Tildes, deu um muxoxo: - Linguaruda! Conversa demais!...
                Márcia sentiu que o velho nagô tinha uma força do Céu e se afinou com ele. Numa manhã, quando o Sol já brilhava, encantando com seus raios toda a beleza daquela fazenda, eis que Márcia começou a passar mal e, mais tarde, a criança nasceu. Foi grande o reboliço, e os Pretos Velhos se mobilizaram. Mãe Tildes pegou a criança, enrolou-a numa coberta e a levou para Mãe Zefa, lá no meio do cafezal, dizendo:
                - Vai, Zefa! Leva este menino porque Alfredo vai matá-lo!
                Zefa saiu correndo com o bebê e o levou para a casa dos Ferreiras, onde, sem saberem o que estava acontecendo, entregou o menino à sinhazinha Emerenciana, mãe de Valdemar, que prometeu jamais revelar que aquela criança era filha de Alfredo. Era o grande segredo entre Mãe Zefa e Emerenciana. Zefa foi embora, e nunca mais se teve notícias dela. Quando Mãe Tildes voltou do cafezal, levou um susto: Márcia havia ganho mais outra criança, uma linda menina! Tinham nascido gêmeos! Mãe Tildes começou a chamar a menina de Marcinha. Vendo a dor tão grande de Márcia, Alfredo acreditou em sua inocência e a perdoou, mas Márcia não quis voltar à Casa Grande. Tanto Alfredo como Márcia não sabiam que haviam nascido duas crianças. Conheciam apenas aquela menina. Alfredo, até seu desencarne, pensava só ter nascido a menina.  Certo dia, um crioulo apareceu para dar satisfações onde estava o menino. Mãe Tildes sofria, sem saber se devia revelar o segredo a Márcia. Foi consultar o nagô, e este lhe disse para jamais revelar a verdade. Fora um erro ela querer assumir a dívida de Márcia. Por outro lado, Mãe Tildes desconfiava de Márcia, ao ver o menino que se parecia demais com Valdemar. O nagô pediu que Márcia voltasse para a Casa Grande, porque seu marido estava caminhando para a loucura e teria um fim muito triste. Márcia saiu dali com o coração apertado, sabendo que Alfredo não tinha condições de continuar a viver daquele modo. O tempo passou ligeiro e Alfredo morreu louco. Márcia se enclausurou naquela casa. Marcinha, já mocinha, começou a namorar o filho de Valdemar! Quando o rapaz entrou, pela primeira vez, na Casa Grande da Fazenda Três Coqueiros, Mãe Tildes foi correndo até Pai Zé Pedro e lhe disse que estava perdida, pois tinha cortado o carma de Márcia e, agora, Marcinha iria se casar com o próprio irmão! Nisso, a porta se abriu e Marcinha, feliz, abraçou Pai Zé Pedro e Mãe Tildes, dizendo-lhes que iria se casar.
                - Ele quer se casar comigo! O coronel Valdemar tem dois filhos, sabem? O mais novo tem dois dedos emendados, um pregado no outro. Mas este não! É perfeito, e não se parece nada com o outro...
                Depois que Marcinha saiu, Pai Zé Pedro falou:
                - Não lhe disse, Mãe Tildes, que a grandeza de Deus não tem limites? Este não é o filho de Márcia...
                E Mãe Tildes perdeu a voz até que Marcinha se casou com aquele rapaz! No dia do casamento de Marcinha, foi promulgada a Lei Áurea, a abolição da escravidão. Foi uma terrível confusão. Tiros... Brigas... Amália, esposa de Valdemar, morreu. Márcia não soube a verdade sobre seus filhos até o dia em que Emerenciana, já para morrer, a revelou: Jacó era seu filho! Tinha dois dedos emendados, que comprovavam ser ele filho de Alfredo, que tinha o mesmo defeito. Márcia, prestes a desencarnar, abraçou seu filho Jacó, cheia de emoção. Mãe Tildes, já um espírito evoluído, teve que pagar esta pena, por ter reparado um carma indevidamente. É o que acontece com quem corta ou interfere nos destinos dos outros!... O pessoal dos Ferreiras lançou-se contra a Fazenda Três Coqueiros. Foi uma grande mortandade. Iluminados pela força de Deus, Mãe Tildes, Pai Zé Pedro e duas crioulas - Uraí e Urail - fugiram para uma outra fazenda cafeeira. Marcinha fugiu, levando consigo seu irmão Jacó. No dia seguinte, uma volante - polícia baiana - chegou à Fazenda Três Coqueiros, onde muitos cadáveres exalavam terrível mal cheiro, e, com muita dificuldade, impôs a ordem. Na fazenda dos Ferreiras, ninguém triscava a mão! Vieram, de longe, velhos coronéis e sinhozinhos. Os pais de Alfredo e os de Márcia quiseram levar consigo os netos Marcinha e Jacó. Estes, porém, não quiseram ir. Todos os que passavam por ali comentavam a triste tragédia daquele povo, povo este composto por espíritos espartanos, vindo de nossa origem e que, aqui, não suportaram as velhas rixas. Alguns dos Ferreiras que fugiram, continuaram a se entrincheirar para novas tragédias. Mãe Tildes e Pai Zé Pedro fugiram para o Angical. É só o que posso dizer, pois aqui estão os malvados que precipitaram esta tragédia! Ainda faltam alguns componentes desta história. Não posso, neste instante, avaliar quais dos senhores e senhoras foram Ferreiras ou quais foram Pereiras... Salve Deus! Só Deus, neste instante, poderá avaliar quem foram...”  (Tia Neiva)
Obs.: Em suas anotações biográficas, Tia Neiva informou que Carmem Lúcia, sua filha, era a reencarnação de Marcinha.


Crises

Meu filho está confuso?


É preciso coragem para modificar, para decidir e ousar. A vida, meu filho, só permite a vitória daqueles que ousam. que decidem, que realizam. Quando a crise visita os meus filhos, é que já é hora de modificar alguma coisa. A crise é sentimental? É preciso modificar a visão a respeito de si e do outro e promover as mudanças. 

O amor só sobrevive se for alimentado, adubado e regado com carinho, doçura, pequenos gestos; enfim, uma série de coisas aparentemente pequenas, muito importantes para manter a vida sentimental. A crise é econômica? Que tal modificar a forma de gerenciar sua vida, seus negócios e suas próprias aspirações?

A crise, quando se apresenta na área social, é um convite à reavaliação de suas posturas, de sua forma de ver a vida e de seu envolvimento com o mundo e a sociedade. É preciso que as pessoas se sintam apaixonadas. Sem envolvimento. sem apaixonar-se por uma idéia, uma pessoa ou um ideal, a vida parece perder o sabor.

Qualquer crise, meu filho, é uma forma mais direta que a vida encontra de nos dizer que temos de modificar algo ou nós mesmos. Isso não é fácil, eu sei! Mas é possível realizar, os desafios existem para estimular a gente a crescer e encontrar uma saída mais simples, ou para nos empurrar rumo a uma solução que está muitas vezes ao nosso lado o tempo todo. É que a gente se acostuma fácil com a boa-vida e se acomoda.

“Deus ajuda a quem cedo madruga” — esse aforismo popular é um reflexo da mais pura realidade. 

É preciso começar cedo a se organizar e procurar soluções. Quando falo em organização, meus filhos acham que é algo difícil de realizar. Mas afirmo que as coisas só são difíceis enquanto você achar que é difícil.

Quando os meus filhos decidirem que é preciso, que é possível, e assim aliarem sua vontade de realização ao conhecimento de sua necessidade, aí será fácil. Reclamar, chorar e adiar decisões não resolve problema algum.

Aliás, meu filho, tem algumas coisinhas que você poderá fazer em benefício próprio. Não adie aquilo que você tem de fazer. Adiar é uma forma de sabotar a si próprio.

Não procure culpados ou culpas, vá atrás de soluções e assuma sua responsabilidade. Aprenda a se organizar e agir.

Meus filhos estão acostumados a reagir e, então, não conquistam a vitória. Choram e lamentam, mas ainda isso é uma reação.


Seja uma pessoa ativa. Em vez de reagir, aja. Uma ação é muito mais inteligente do que uma reação.

É preciso ter coragem para mudar. As crises são o grito da vida nos chamando à modificação.